13 de dezembro de 2005

Enfim.... Alma Perdida

Toda vez que me proponho a ler minhas poesias me deparo com a Alma Perdida de Florbela Espanca, uma poetiza portuguesa que escreve com a alma feminina. Enfim... Alma Perdida:

"Toda esta noite o rouxinol chorou.
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente
Tu és, talvez, alguém que se finou
Tu és, talvez um sonho que passou
Que se fundiu na dor, suavemente
Talvez sejas a alma, a alma doente
D´alguém que quis amar e nunca amou
Toda a noite choraste, e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguem é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma
Que eu pensei que tu eras a minha alma
Que chorasse perdida em tua voz!"

10 de dezembro de 2005

Um pouco de Huxley

Estou quase no fim de Admirável mundo novo de Aldous Huxley e uma frase mexeu realmente comigo. Um dos personagens integrantes do mundo novo mostra o quanto ele se destaca nesse mundo através de uma poesia que ele escreve e cita para outros dois personagens. Uma passagem da poesia é a seguinte:

"...
Este vazio que me contraria
Acaba formando uma presença."

Engraçado que nesse instante percebi que isso é verdade. Pelo menos quase sempre me sinto só, nem sempre é ruim. Mas de fato, quando a solidão se torna um vazio ela passa a contrariar e, por fim, torna-se uma presença. Queria ter outras presenças em minha vida, mas é essa presença que me faz pensar, que me faz criar todas as idéias que crio e coloco no papel. É a solidão que preenche o meu espaço vazio... Engraçado, é paradoxal, mas real.

Isso me faz pensar mais... Talvez faça isso.

8 de dezembro de 2005

Bachô

Um hai-kai de Bachô me fez pensar no que tenho feito de minha vida... por isso deixo ele aqui para eu não esquecê-lo



Uma pimenta.
Colocai-lhe asas:
uma libélula rubra.

Meu quarto


O chão do meu quarto
É feito de lágrima.


A parede do meu quarto
É feita de grito.


O teto do meu quarto
É feito de pensamento.


A porta do meu quarto
É feita de solidão.
Meu quarto é um fator endógeno:
Um grande exílio sem anistia,
É enfim a nata visionária
De uma princesa que velejou
Nas cinzas do carnaval.


Meu quarto
É um coração impuro,
Na verdade morto
Pelo tempo sujo
Cujo silêncio é festa .