7 de fevereiro de 2008

Chega de Saudade


Num verão atípico, com chuvas de mais e sol de menos, faço uma bela viagem quase todas as manhãs. Uma empreitada matemática me obriga a sair da pacata tijuca e seguir ao poético jardim botânico.

Há quem diga que tenho azar, efeito do tempo perdido, do sono escasso e da entediante viagem. Percebi a sorte de poder fazer durante as manhãs de férias.

Sair da tijuca já é a benção. Sua poesia é dura e pouco amável. Ela está mais para uma prosa realista da vida da classe médica carioca.

Porém, ela consegue ser superada pela pobreza do Estácio. Sempre lembro de Luiz Melodia dizendo para matá-lo de amor por lá. O Estácio é que precisa de muito amor, terra maltratada.

A certeza de um sorriso vem com a chegada da Lapa. Sua magia não é boêmia, é apenas poesia da mais pura liberdade carioca. Passar por aquele engarrafamento não dói, nem se sente.

Passar pelos arcos é o clímax. Não do que se passou, mas a certeza do que está por vir. Os lindos jardins, parques e estátuas da inebriante zona sul.

Quando adormece, a brisa do Flamengo me acorda nesse trecho. Quando passo pelo Hotel Glória, o carro abre-alas da arquitetura do Flamengo retro.

Isso só é superado pelas estátuas da praia de Botafogo que me fazem lembrar de olhar mais a frente e ver o pão de açúcar resplandecendo a enseada.

Parece que meu player combina com Deus os movimentos e sempre toca João Gilberto enquanto subo a São Clemente, me fazendo cantar chega de saudade, ao lembrar daquela enseada estampada nos meus olhos.

Os carros lentos no Humaitá não me incomodam, eles são a certeza da proximidade com o Jardim Botânico, a certeza de que a Lagoa sempre está lá, para nos acompanhar as escondidas.

Só então, ao subir a rua Jardim Botânico, me distraio com os graffitis nos muros e lembro que chego ao novo ápice: o Parque Lage a abençoar todos nós, e infelizmente, os prédios da rede globo a atrapalhar a paisagem.

Chegamos ao destino, sigo para o Horto, com a companhia do jardim ao meu lado, perfumando o caminho e acalmando meu coração.

No ponto final, a tristeza de ver a ladeira que ainda subirei é esquecida, vejo sempre o mesmo beija-flor a me saldar as belas manhãs cariocas.

Bom Dia Rio de Janeiro.