"Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer"
(Cesário Verde)
Moro no Rio de Janeiro, cidade das praias, do sol, do calor e dos bandidos megalomaníacos. Minha janela me dá uma vista linda... Vejo o Cristo abençoando minha manhã, vejo a ponte Rio-Niterói, vejo o castelo da FioCruz, mas também vejo o morro da Mangueira, morro do Borel e alguns outros que nunca lembro quem é quem.
Esse universo, depois de alguns anos, se confunde com a impressão de normalidade, por isso o universo do crime ganhou as ruas e infelizmente nos acostumamos com a loucura do bang-bang carioca. Mas tudo passou dos limites quando na minha pacata Santos houve a megalomania dos presos e seus colaboradores, fazendo minha família entrar em pânico. Quem diria que a linda Santos viveria isso? Foi então que percebi que meu universo é conturbado, que meus dias as vezes são cinzas, que meus olhos não mais confundem tiros no ceu escuro com estrelas cadentes.
Não sei se a Utopia de dias melhores merece destaque. Talvez o fato de eu pensá-la como utópica já denuncia meus pensamentos. Ainda que tudo sempre pode piorar e agravar nosso desanimo, talvez tudo também possa melhorar e por isso acredito na utopia de um Brasil melhor. Não precisamos de mais dinheiro, basta uma coisinha: virtude. Virtudes desde o Presidente ao aviãozinho do tráfico. São as virtudes da lei de Deus que nos salvam, mas quem conseguirá trazê-las e implantá-las nesse mundo? Só o tempo vai responder.
Enquanto isso faço meu dever de casa e passo a desenvolver as minhas, dar o exemplo será que já não é ajudar? Vou descobrir.... Descobrirei na companhia de Mário Quintana....
Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!