26 de janeiro de 2006

Na cozinha dos sonhos

Estou cozinhando numa sexta-feira, fazendo um almoço regado a Pontes de Madison na TV e quando aquela bela mulher diz "Ele me faz ser uma mulher que eu não reconheço, mas cada vez me sinto mais eu" acabei tendo um flash de idéias, como se o meu molho na panela borbulhasse com uma pitada dos meus sonhos.

Foi então que percebi que minha visão não tinha mais cor, não tinha mais azuis, rosas e amarelos, mas apenas uma gradação de cinzas que, por encanto, fizeram meu coração sorrir. Somente então descobri um segredo que escondi de mim mesma, as cores nunca me fizeram fascinada. Elas nada mais são que criações de uma outra pessoa que tenta incessantemente me fascinar, mas nada consegue.

Por alguns instantes revirei minha memória, minhas fotos, minhas principais recordações e talvez tenha me decepcionado comigo por poucos segundos. Nada na minha mente tem cor. Ainda que eu as reconheça, não fazem parte de uma memória emocional. Como se o que entrasse no hall dos memoráveis fossem apenas o preto, branco e os irmãos cinzas.

Poderia ter me decepcionado mais, porém um novo olhar trouxe o orgulho. Só então eu vi que as principais recordações são de gestos. Não lembro a cor do pôr do sol de um dia, mas lembro do sorriso que ganhei naquele momento, lembro do toque de uma mão na minha, lembro de uma lágrima de alegria correr uma bela face, lembro de isso ser mais importante que as cores do pôr do sol.

Ainda tento entender minhas preferências, mas certamente me orgulho de conseguir ver além do contorno, cada gesto é transcrito numa palavra, num sentimento e são esses que registro. Não conseguiria me exaltar a ponto de dizer "tenho olhos pra ver", não sou tão boa assim. Mas já não me satisfaço com o embrulho dos presentes de Deus, quero a essência, essa pode me fascinar.

9 de janeiro de 2006

Mais uma mensagem no muro das lamentações

Se um dia a vida parasse e houvesse a possibilidade de uma reflexão, será que eu conseguiria mensurar tudo que vivi, pensei, senti, gostei, argumentei, briguei? Ainda assim penso que o melhor não seria mensurar, mas saber pescar na vida apenas o bom, apenas o proveitoso. Acho que eu não fiz isso. Pelo menos não quanto deveria. Errei, pequei, machuquei, briguei, xinguei, traí, fiz chorar... Mas só depois de muito tempo, quando a ferida dos outros já se tornara uma cicatriz antiga, eu comecei a lembrar do que fiz. Talvez eu deveria ter despertado para meus atos um tanto antes. Entretanto, penso cá que esse pode ser o melhor momento. Agora, mais séria, mais madura, mais experiente, posso ter uma análise melhor e mais coerente.

Ainda assim, quando olhamos para trás depois de um longo período a miopia da alma não nos permite ter a imagem correta, guardamos apenas o que nos marcou mais e talvez isso não seja o mais importante do que se passou. Às vezes o que não vemos, o que não percebemos, é o que mais surte efeito no próximo.

Enfim, tenho medo de pensar nas dores que causei, mas só assim vou aprender a causá-las cada vez menos, preciso delas para perceber o que sou para os que me cercam. Quantas coisas precisamos fazer ou ter e não queremos?... Essa será apenas mais uma

5 de janeiro de 2006

Tédio oculto!

I'm tired to be alive,
I'm tired to be the same
I'm tired to always say
The love isn't true!

Nenhum amor ou livro é capaz de estinguir o cansaço do coração. O cansaço de amar e viver em função de ocupações que nunca trazem mais do que meia duzia de pensamentos. Não quero desejar mais alguma coisa, não quero uma ambição de grandes eventos, mas admito: Seriam bem vindos...


Agora a ocupação abre um abismo de lágrimas, não sei se chorar resolve, mas certamente anima. Sim, anima sim! Anima ao ponto de dar vontade de subir de volta ao mundo dos "normais" e acreditar que finjo ser algo de bom, ou pelo menos pareço.

Retorno ao abismo de silêncio, nem minha voz ecoa mais... Mas um dia volto, quando abrir os olhos eu volto...